quarta-feira, 16 de julho de 2014

Desvendando a treta de Galileu Galilei


Galileu Galilei é o nome que sai automaticamente da boca de todos aqueles que desejam apresentar a Igreja Católica como inimiga do progresso científico. Infelizmente, poucas são as pessoas que se dedicam a estudar os fatos; a maioria se conforma em crer piamente naquilo que ouviu dizer na escolinha ou na TV. Pior ainda são os pseudo-sabidos que querem se exibir com base em “conhecimentos” adquiridos em sites furrecas. São essas pessoas que nutrem um grande preconceito contra a Igreja, e perpetuam as mentiras sobre o caso Galileu.
Entretanto, os fatos, documentalmente provados, mostram que Galileu teve seus dias de glória em Roma. Esse católico devoto – que morreu em paz em sua casa, fiel à Igreja – foi inicialmente aclamado pelo clero por suas descobertas. Mas o que mudou para que a a relação entre ele o clero se azedasse? É o que veremos hoje.

Galileu pop-star
Galileu defendia que a Terra girava em torno do próprio eixo e em volta do Sol, assim como os demais planetas do sistema Solar; o primeiro a propor essa teoria não foi ele, mas sim o padre Nicolau Copérnico. Então, você aí que vive dizendo que Galileu queria provar que a Terra era redonda, tome tento: até o mais analfabeto dos homens medievais estava careca de saber que a Terra era uma esfera (saiba mais aqui).
Pouco antes de morrer, em 1543, Copérnico foi incentivado por membros do alto clero a divulgar seus estudos. Publicou, então, o célebre “De revolutionibus” e o dedicou ao Papa Paulo III.  Por mais de 60 anos – reparem nisso – a teoria heliocêntrica de Copérnico circulou livremente em toda a Europa, sem qualquer restrição.
Em 1610, Galileu entra em cena. Seu grande mérito foi o de, com seu telescópio, ter feito observações importantíssimas, que pareciam confirmar as afirmações de Copérnico sobre o movimento da Terra. Suas descobertas no campo astronômico foram mais do que reconhecidas pela Igreja: em 1611, Galileu foi recebido com uma festa no Colégio Romano dos padres jesuítas. Era uma homenagem pública entusiasmada e sincera; se não o fosse, teriam colocado veneno na bebida do astrônomo ou teriam chamado Fernanda Takai para cantar, culminando o show com um solo de guitarra do Chimbinha – aí era morte por indigestão, na certa!
Pelas ruas de Roma, Galileu era só sucesso. Apesar de suas muitas rugas, por onde ele passava, as marias-luneta (versão mais sofisticada das marias-chuteira) gritavam: “Lindo. Tesão. Bonito e gostosão!”. Caio Castro perdia. Mas o grande homem não estava satisfeito. Galileu estava determinado a fazer com que suas conclusões fossem aceitas como verdade científica, e não como mera hipótese astronômica.
Qual foi a treta?
Faltou humildade e bom-senso de ambos os lados. Galileu tentou provar o movimento da Terra com base nas marés, e nisso mandou muito mal; obviamente, foi ridicularizado. O fato é que Galileu não tinha elementos irrefutáveis para comprovar sua tese. Não sei bem se por ansiedade ou por arrogância, tomou as objeções à sua tese como ofensas pessoais e, imprudentemente, dizia que a interpretação que os teólogos faziam da Bíblia estava errada. Aí começou a treta…
Talvez Galileu estivesse muito seguro de si, na sua condição de afilhado do Papa e amigo de membros do alto clero. Assim, começou uma campanha para cobrar da Igreja uma interpretação não-literal do trecho da Bíblia que parece sugerir que é o Sol que gira em torno da Terra.
“O sol se levanta, o sol se põe; apressa-se a voltar a seu lugar; em seguida, se levanta de novo.” (Eclesiastes 1,5).
Galileu acertou ao dizer que as Escrituras não pretendem ser um tratado de ciências naturais. Porém, errou ao armar um barraco tão grande sem ter provas científicas para lhe sustentar (e ele sabia que não tinha).  O astrônomo já era um homem velho, e tinha pressa; talvez não suportasse a ideia de que não viveria para ver sua tese ser comprovada. De fato, o movimento de translação da Terra só seria fisicamente provado no século XVIII, por meio dos estudos de James Bradley sobre a “aberração da luz”; e a prova definitiva da rotação da Terra só viria no século XIX, com o pêndulo de Foucault.
Se fosse feita alguns séculos antes, é bem possível que a sugestão de interpretação não-literal do citado trecho de Eclesiastes fosse melhor aceita pelo clero. Afinal, a mente dos teólogos medievais era bem mais aberta do que a dos teólogos do século XVII (quem afirmou isso em uma entrevista foi Annibale Fantoli, doutor em Matemática e Física, e mestre em Filosofia e Teologia). Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, os pensadores mais respeitados da Idade Média, diziam que se evidências irrefutáveis viessem a contrariar a usual interpretação das Escrituras, essas evidências deveriam ser acatadas.
Mas Galileu quis cantar de galo sem ter crista, e resolveu dançar lambada em um campo minado. Naquela época, o protestantismo espalhava pelo mundo seus males e seus erros, defendendo que qualquer leigo poderia interpretar a Bíblia, sem precisar se submeter à autoridade da Igreja. Sabendo disso, podemos entender o zelo da Igreja diante de um leigo que queria impor a sua interpretação da Bíblia, sem ter ao menos evidências irrefutáveis para isso.

A justa preocupação em combater a livre interpretação das Escrituras e o excessivo apego ao “argumento de autoridade”* levaram o alto clero da Igreja a cometer o erro de condenar Galileu (erro este admitido por São João Paulo II, em 1992). E que fique claro: Galileu NÃO foi torturado nem morto pela Inquisição. Ele foi condenado à prisão domiciliar e passou seus últimos dias vivendo em sua luxuosa residência. Ali, continuou a trabalhar e até mesmo publicou um livro.
Há centenas de exemplos que poderíamos citar – historicamente documentados – de que a Igreja Católica, desde a Idade Média e até hoje, promove e incentiva intensamente o avanço científico e o conhecimento em geral. Contra isso, só há um – UM exemplo negativo, o caso Galileu. Porém, é como se a realidade fosse invertida. Ao erro da condenação se somaram séculos de calúnias, estupidez e todo o ódio dos anticatólicos. E o mito se perpetua. Eis a penitência que todo o povo católico terá que pagar, talvez até o fim dos tempos, por essa falta cometida há séculos por nossos irmãos de fé.
É importante notar: a condenação de Galileu não compromete o dogma da infalibilidade papal. Afinal, não foi um ato de magistério infalível nem definitivo.
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Quem quiser saber um pouco mais sobre esse assunto, veja aqui o vídeo do professor Thomas Woods. Agora, se você quer estudar esse tema a fundo, adquira o livro no qual nos baseamos para fazer este post: “Galileu – Pelo copernicanismo e pela Igreja”, do dr. Fantoli; o site Tubo de Ensaio publicou um ótimo resumo da obra (veja aqui). O argumento de autoridade* é explicado nesse resumo.

Fonte: O Catequista



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